Dark Void

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Dark Void é um grande exemplo de como boas idéias de games podem afundar em um desenvolvimento pobre. Tudo conspirava a favor de um grande jogo: o conceito de vôo livre em um jetpack, a viagem a outra dimensão através do Triângulo das Bermudas (um dos mitos mais produtivos da ficção-científica), o sistema de combate vertical, a guerra contra Aliens tecnológicos... mas há algo que ficou na metade do caminho para a equipe de desenvolvimento da Airtight Games (o jogo é apenas distribuído pela Capcom) que não corresponde às expectativas criadas.

O combate a pé frustra pela repetição e pela falta de diversidade, tanto das dinâmicas de ação quanto dos inimigos. O clássico sistema "Gears of War" de esconder-atirar, que parece tão promissor no começo, logo se torna tedioso, já que não inova em momento nenhum e o máximo que você fará, durante todo o jogo, é só isso mesmo: se esconder e atirar. Tanto que a Capcom deve ter percebido o problema e encaixou, logo na introdução, uma rápida missão de vôo com o jetpack - sem dúvida a melhor coisa de Dark Void - como forma de semear a promessa de que o jogo vai melhorar futuramente.

Rocketeer reboot

 

Apesar da natural estranheza com os controles no começo, o Jetpack logo se revela um grande aliado para explorar ambientes e seus dinâmicos movimentos tornam os vôos livres muito divertidos, e é o que provavelmente garante a permanência do jogador até o fim do jogo. Uma pena que as missões não explorem tudo o que o uso do jetpack poderia oferecer. Mesmo o sequestro de OVNIs em pleno vôo cai na armadilha da repetição: é fascinante na primeira vez, a mesma coisa na segunda (sequer há uma variação na animação) e chato a partir da terceira. As poucas possibilidades de upgrades e a falta de chefes de fase também só contribuem para deixar a narrativa morna e excessivamente uniforme (o último chefe do jogo é tão sem graça e absurdo dentro daquele universo que só faz o jogo terminar num final anticlimax).

Nem mesmo a história consegue envolver como poderia, com um roteiro tão mal escrito e cutscenes tão mal dirigidas. O interesse romântico não convence, as idas e vindas no tempo não acrescentam nada de realmente relevante e a história carece terrivelmente de momentos de impacto e reviravoltas inteligentes (a sugestão de envolvimento dos aliens com os nazistas soa deslocada e desnecessária). O desenrolar da história é tão insosso e desinteressante que, quando você menos perceber, já vai estar na última missão do jogo, sem se importar se alguém morre ou vive, quem vai ou fica.

E não bastasse a pobreza de design, os gráficos monótonos e a jogabilidade genérica na maior parte do tempo, Dark Void ainda não esconde a falta de originalidade, copiando descaradamente de diversas referências e as usando da maneira mais negligente possível. Desde o design "molusco + armaduras robóticas + neon" dos alienígenas de Crysis e o combate vertical de Dead Space, até os OVNIs que lembram as naves de Guerra nas Estrelas - A Ameaça Fantasma e a idéia do The One de Matrix - aqui é chamado, sem o menor pudor, de The Key (tem até um Morpheus e a visita ao Oráculo).

Não já vi isso antes em Crysis?

Com boas idéias e alguns bons momentos de ação, Dark Void é a primeira grande decepção do ano. Nem por ser exatamente ruim, mas por ter tanto potencial desperdiçado. Ainda assim vale a viagem, nem que seja - como dizem por aí - para que você veja o grande jogo que ele quase foi.

Nota: 5