Faz uns dias que vi esse filme e não sei ainda direito o que escrever, nem se é muito bom ou muito ruim. Mas fica bem claro, depois de alguns minutos de projeção, que não é uma obra religiosa padrão - eu mesmo, que entendo lhufas de catolicismo, consegui captar numa boa a história ( naquele A Paixão de Cristo, do Gibson, precisei de um amigo especialista pra entender a trama e os personagens, por exemplo ), que foca mais na saga pessoal do personagem-título.
Aliás, apenas a introdução, que mostra a história de Adão, Eva, Caim e Abel, traz religião à tona de forma mais clara. Outra sequência, mais pro final, mostra a criação do universo e me pareceu algo mais científico do que baseado na Bíblia.
Em paralelo, chama a atenção também o elenco, já que a família do Noé por si só é um belo crossover de blockbusters: Noé é o Gladiador Maximus, seu filho é o Percy Jackson, a filha adotiva é a Hermione e o avô dele é Odin. Quase os Vingadores bíblicos, ou algo do tipo.
Enfim, o tal Noé vive atormentado por sonhos e pesadelos - pra tentar entendê-los, vai atrás de seu avô, Matusalém/Odin. No caminho, encontra uma família assassinada da qual só sobrou a Hermione, que acaba adotando. Ele encontra Odin, que tá velhinho caquético e não ajuda muito, mas entrega uma semente vinda do Éden. Quando a semente é plantada, uma mega floresta aparece do nada ( é, meio especial de Natal da Xuxa ) e o Maximus Noé resolve que seus sonhos são um sinal do Criador, motivado pela violência dos homens, que a humanidade tá fudida. Assim, Maximus resolve, vendo toda a madeira da floresta e uns pingos d'àgua, que o mundo vai acabar em chuva e tem a ideia de construir uma arca onde serão reunidas criaturas que vão repopular o mundo. Pra isso, ele vai contar com a ajuda dos Guardiões, uns monstros de pedra que se movimentam como os Transformers.
Os vilões são os “homens”, mais especificamente uma tribo enorme de descendentes de Caim ou algo assim, que resolvem também pegar carona na arca e atacam Maximus e sua família hollywoodiana. E a coisa vai crescendo em grandiosidade, com a arca e os ataques da tribo, até chegar ao tal diluvio - e aqui, depois de um comecinho religioso, umas brigas meio Senhor dos Anéis misturado com Transformers, vira um filme catástrofe.
Após o dilúvio, a família ainda tem que resolver algumas questões morais que vão de encontro à missão do Maximus – inclusive se sua própria família merece fazer parte desta repopulação do mundo.
O curioso é que tudo é muito bem realizado, porém sem destaques. A arca, por exemplo, parece um belo trabalho de direção de arte, mas não aparece o bastante em cena pra vermos o que é digital e o que é construído no set. O mesmo vale para os animais, que à primeira aparição surgem com um design bem diferente, mas depois são parcialmente vistos. Nesta parte técnica, no máximo o som impressiona – o barulho do dilúvio e a parte onde membros da tribo gritam pedindo ajuda para entrar na arca são impressionantes.
E talvez por esta parte do dilúvio ser o mais impactante, de longe, pouco sobra pra analisar ao término da projeção. É difícil analisar o filme sem concluir que é uma mera história de ficção – um filme de catástrofe bíblica, por falta de definição melhor.