
My Blueberry Nights é o meu primeiro filme de Wong Kar-Wai, o primeiro filme em inglês de Wong Kar-Wai, o primeiro trabalho no cinema da cantora Norah Jones e o primeiro filme de arte que eu assisto em 2008.
Antes eu tava só no indie ou no blockbuster.
A sabedoria me ensina a assistir pelo menos três filmes de alguém pra sentir que eu conheço o coração inteiror dele, mas fiquei com a impressão de que o Wong Kar-Wai é como o Pedro Almodóvar, um cine-poeta cujos fãs não são exatamente cinéfilos, mas amantes do interior humano. E se você fala mal de um filme dele é porquê é troglodita, intratável, não gosta de nada, é colonizado por Hollywood, essas coisas que 8 anos de PT ensinam a ouvir calado.
Fã de filme de arte é esse povo com doutorado em Pasolini que é capaz de descer da Harley Davidson e te estapear a lateral da face se você citar uma qualidade num filme do John Woo.
Esse filme é todo arteiro, todo pintando o 7. Norah Jones - que todo mundo pode constatar ser uma mistura exata da Michelle Rodriguez com a Natalie Portman - é uma mina que tomou uma bota e agora vai andar pelo baixo gueto dos tipos estranhos, de bar em bar, desvendando suas almas, tocando suas dores para curar a si mesma.
Ela encontra o Jude Law dono de bar e de coração partido, um policial de meia-idade e alcoólatra separado de sua esposa ex-ninfeta Rachel Weisz e... bom, ainda não terminei de assistir ao filme, mas já sei que a Norah Jones vai conhecer mais tipos estranhos, encontrar a si mesma e ficar com o Jude Law, tenho certeza, CERTEZA!
Esse recurso da personagem picaresca é TÃO de arte que dá dó.
Um bom problema do Kar-Wai resolver no futuro é que ele não tem muito ouvido pro inglês, os diálogos são todos maneiros, rápidos, espertos... mas parece retradução do inglês.
Os recursos visuais desse filme também são... sei lá, um cocô miserável de pobre? Mas visual de filme de arte nunca é cocô! Sempre é vanguarda, inteligente, pré-rafaelita.
Tem uma vinheta entre uma cena e outra de uma torta de blueberry (framboesa?) com um líquido branco escorrendo. Supostamente um creme delicioso, um leite condensado do monte olimpo, mas pra mim pareceu esperma de ganso. Não vi a função disso, muito embora bluberry seja adotado pela protagonista como um símbolo. De quê eu não sei.
No elenco:
Jude Law exatamente como Jude Law de Closer,
Norah Jones ótima atriz, embora obrigada a fazer certas ridiculices pro Wong Kar-Wai
David Strathairn (Good Night anda Good Luck) como o policial alcoólatra com uma cena redeeecula de choro e beicinho.
Rachel Weisz como deusa, musa, um arregaço!
..::PARÁGRAFO PARA RACHEL WEISZ::..
Rachel Weisz é como as mulheres com quem a gente sonha, aquelas que a gente acha que faz o esquema de namoradinha, Rachel Weisz conversa perto do nosso ouvido no metrô, ri alto enquanto divide um guarda-chuva com a gente, a Rachel Weisz é bonita mesmo às 17:40, depois de arrumar a casa toda. Nesse filme o pescoço da Rachel Weisz tem o diâmetro perfeito para pescoços, e acima está a linha do queixo, exata. A pele da Rachel Weisz está como o marfim do Congo, as pernas da Rachel Weisz são o cedro do Líbano. O cabelo da Rachel Weisz nunca esteve tão bonito nas capas de revista, a tesoura que cortou os cabelos de Rachel Weisz para My Blueberry Nights merece ser banhada de prata e cristalizada dentro de uma maçã do amor. A boca da Rachel Weisz é macia por fora e quente e molhada por dentro. Rachel Weisz faz homens fortes chorarem e policiais recolherem seus distintivos.
Eu te amo... R A C H E L W E I S Z!
..::PARÁGRAFO PARA RACHEL WEISZ::..
Claro que é um post enorme e prolixo, mas desde que eu vi A Conquista da Honra percebi que filme de arte só serve pra levantar debate sobre cinema, o filme mesmo não rende assunto, não dá pra dizer se é bom ou ruim, porquê toda cena supostamente deu certo, todo sentimento vale, todas as decisões do personagem são cools, nenhum personagem de filme de arte é idiota, infantil ou retardado, mas sim navegante da noite, atormentado ou naïf.
Enquanto assistia ao filme até inventei uma cena de arte: o cara tá na calçada fumando um cigarro e chega uma mina que ele não vê há muito tempo. Eles trocam umas frases cools e afiadas, e a mina pede um cigarro. O cara diz que era o último cigarro e o tio dele, que é marinehrio, ensinou que nunca se deve dar um cigarro aceso a alguém. "Parece que você nunca guarda nada pra mim, Lenny", a mina diz, evocando o passado doloroso. "Abra a boca um pouco", diz o Lenny. A mina abre a boca e ele sopra 3 quilos de fumaça de cigarro dentro da boca dela e a beija longamente. A mina não tira os olhos dos olhos do Lenny. Ela fica sentindo o beijo e... solta a fumaça demoradamente. "Seu tio ensinou isso, também?"
Achou ridículo? Não pode! Isso é filme de arte.