Duas cabras estavam comendo os rolos de um filme baseado num romance.
Uma delas pergunta “como está o seu?” e a outra responde “eu já comi o livro e é bem melhor”.
Dois infanti-miguxos afegãos soltadores de pipa terminam a amizade de forma trágica. Daí a Rússia inavade o Afeganistão, o miguxo rico vai pros States e o miguxo pobre já tinha sumido faz tempo. Uns 20 anos se passam e...
Seus bichas, podem confessar que leram o livro e depois ainda compraram a edição ilustrada só pra ver a foto do Hassan!! Não é nenhuma vergonha curtir um best-seller. Ruim é gostar de best-sellers ruins.
É o caso? Bom, cada um sabe do que gosta.
Vou dizer que é clichê como poucos livros que li ultimamente; o autor, Khaled Hosseini, não perde uma chance de agarrar o lugar comum, a frase de efeito, o melodrama e os macetes da “escrita criativa”. Ele é afegão da gema, mas escreve como se fosse um fanfic do Capitão América, o mais dado a cair em todas as armadilhas do storyteller que existem.
Tem até a frase que fica sendo repetida o livro todo. Chegou-se a esse ponto.
Aqui, o clichê é tão grande que existem duas frases dessas.
Dói nos olhos de quem é leitor profissional.
E fisga nas primeiras linhas o leitor ocasional.
Na página vinte você já sabe quem vai ser o vilão do final do livro. (achei que iam usar lápis de olho nele, mas não foram tão longe)
Mas a história é boa, boa MESMO, num cenário semi-virgem para nós, macaquitos, e esse é o carisma do livro, tanto para profissionais quanto para ocasionais.
Harry Potter, O Código Da Vinci, O Senhor dos Anéis... todos enfrentaram as mesmas críticas: cortar personagens e resumir a história.
A dificuldade para os produtores deve ter sido que 80% deste livro é contado pelo narrador onisciente, e ele fala mais do interior dos personagens do que da trama. Difícil transformar isso em cenas e ao mesmo tempo ficar com um filme de menos de 4 horas.
Agora que já li o livro não consigo imaginar como se sente quem não leu, mas acho que ou se vai entender muito pouo, ou será como ver um episódio de série de televisão, bastante raso e cheio de assuntos pendentes.
Em O Caçador de Pipas o trabalho de açougueiro foi brutal, o caras cortaram muito, correram muito, suprimiram muito! O que no livro se passa ao longo de muuuuuuuuito tempo, no filme é quase uma sucessão de esquetes.
A música é demais! A MÚSICA É DEMAIS! Acho que ganhou o Globo de Ouro (mas quem ligou pro Globo de Ouro desse ano?). A dos créditos, principalmente.
Créditos, aliás, que parecem aquele trailer de Street Fighter 4, a câmera viajando no meio de umas aquarelas. Boniteza demás!
O atores com mais tempo de tela são os mais canastras.
Boa coisa é que a o ator mirim que faz o protagonista tem uma cara só, mas ela é ideal pro personagem. Sabe aquela criança chata, irritada, mimada, fresca, meio alienada, meio monga? Então.
Depois ele cresce e deixa de ser babaca, e o ator adulto ajuda muito mais nisso.
No livro o pai do garoto é uma força, imenso, ético, uma presença e tanto. No filme é tipo o Jeremy Irons depois de escorregar no banheiro. Bleh.
O vilão, no livro, tem toda a pinta de Jared Leto com lápis preto no olho e lambendo suas vítimas enquanto fala com seu adversário. Mas não rolou. Ele apenas ficou maaais clichê e maaais babaca que no livro.
A divulgação do filme tá meio fraquinha, mas existe uma badalada e aguardada cena forte envolvendo uma das crianças. No livro, pra mim, é clichê. No filme ficou inócua como leite desnatado.
Acho que quem não leu o livro e não ouviu falar da cena mal vai se dar conta.
Bom, vale mais a pena ler o livro que ver o filme, mas tanto um como outro valem bem mais que os livros do Dan Brown. Se você gostou deles, porquê não deste aqui?