Cinema

Moderador: Equipe Joio

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[MOSTRA/SP? NÃO MESMO!] Teaser do hostel 2 que passou antes do Saw 3

Vem ai mais um clássico do visionário Eli Roth

http://movies.yahoo.com/feature/hostelpartiiqt.html  

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Foto de quase nada

[ESSE NÃO É DA MOSTRA/SP] Flyboys

Achei meio lindo, embora 100% cretino. A fórmula pra gostar desse filme é simples: basta trocar os pilotos por Jedis e os alemães pelo Império. Tem muita coisa constrangedora, não dá nem pra falar todas, é um chick flick, mas é divertido. Na verdade eu ia ver o Wicker Man, mas o trailer desse Flyboys me empolgou. O filme é montado de forma pornográfica, é uma cena de papo e uma de batalha, tem umas 15 batalhas aéreas, cada uma mais fofa que a outra, parece um jogo, destaque para o climax ridículo e a cena do zeppelin.

Nota 7,04
NB 8 (a turminha de voadores é formada por: um galã, um gordo, um negão, um católico, um maneta, um malvado e o Jean Reno fazendo papel de francês. simplesmente ridiculo.)
Chucometro 9 (A cena final é tão descabida quanto o final do Missão Impossível 2 [o bico na pistola], eu riu só de pensar)
Punhometro 1 (censura livre, mas tem uma francesinha mais ou menos, q não mostra nada, apenas o rosto [mas dá pra imaginar um cumshot])

 

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[MOSTRA/SP] Um Bom Ano

Filme para adolescentes de meia idade. Sabe aquele tiozão que está achando a vida uma merda, detesta o próprio emprego e não quer mais ver a família na frente? É um filme para esse cara. Na escala do escapismo, Star Wars fica com 10 e Um Bom Ano com 11. Aquele mauricinho que hoje lê revista VIP, tem assinatura da Playboy, e acha charutos e vinhos o cúmulo do bom gosto e sofisticação, vai virar esse tiozão amanhã e se deleitar com filmes como Um Bom Ano, que o permitirão imaginar a vida como um bon vivant rico e conquistador, por cerca de duas horas. É um filme atípico do Ridley Scott, que no final das contas é assistível apesar de babaca. O Russell Crowe é tão canastra que já transcendeu a categoria dos maus atores e agora é um ator excelente. Sério, porque para ser tão ruim e canastra assim é preciso de talento.

As pirotecnicas visuais do Ridley nem em um filme como esse ficaram de fora. Tem uma seqüência com o Russell Crowe tirando fotos de uma casa com o celular que é montada como se fosse a de um franco atirador procurando um alvo. Não caiu bem.

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[MOSTRA/SP] Electroma

Primeiro filme dirigido pelo Daft Punk, estrelando o Daft Punk, mas sem músicas do Daft Punk. Houve uma preocupação excessiva em ser "experimental", e um descuido muito grande em ser interessante. Algumas imagens são bonitas, a seqüência em que o Daft Punk anda de carro pela cidade é interessantíssima, mas tudo o que presta em Electroma se encaixaria melhor em dois videoclipes de no máximo 5 minutos cada. Um filme de quase 80 minutos, composto, na maior parte da duração, pelo Daft Punk andando de carro ou a pé, é exagero. Parece filme de conclusão de curso em faculdade de cinema.

A história: os Daft Punk querem ser humanos mas não conseguem. Fim. Há coisas bem melhores para se fazer na vida do que ver este filme, mas tenho que admitir que acabei gostando dele um pouco mais do que deveria, e por algum milagre não tive vontade de dormir. Talvez eu estivesse num bom dia.

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[MOSTRA/SP] O Ilusionista

Entre O Ilusionista e The Prestige, fico com The Prestige, mas o filme com o Edward Norton merece muito mais atenção do que tem recebido. É uma fábula romântica e política muito boa, bem feita, delicada e interessante. Lembro de ter lido algumas críticas mornas, mas não sei o que esse pessoal precisa para se satisfazer que esse filme não tenha oferecido. Não há muito o que comentar, mas é um filme que deveria ter feito mais sucesso.

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Fernando Meirelles dirige Ensaio sobre a Cegueira

Mas o filme será falado em inglês.

Mais informações no Twitch

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[MOSTRA/SP] O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias

Foi loucura mandar Cinema, Aspirinas e Urubus ao invés deste filme para o Oscar. Caramba, não só tem criancinha, mas tem muito judeu. É uma versão brasileira meio light de Machuca (não que o Cao Hamburger tenha se inspirado em Machuca, parece que esse filme já estava sendo desenvolvido há alguns anos), e o melhor filme brasileiro que eu vejo desde Cidade de Deus. Os pais de um menino mineiro precisam "sair de férias" em 1970, porque estão na mira dos militares, e o deixam com o avô no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. O avô acaba morrendo depois de um ataque cardíaco, e o moleque é adotado pelas comunidades judaica e italiana que habitam a vizinhança. A promessa dos pais é a de que eles voltariam a tempo de acompanhar a Copa, e o filme lida com as expectativas do menino em relação à vitória do Brasil e à chegada dos pais. É óbvio que ambas são simbolicamente incompatíveis.

As coisas não começam lá muito bem, e o elenco infantil é bastante irregular. Ora as crianças atuam bem, ora atuam mal. A narração em off do moleque protagonista é meio caída. Mas assim que o filme decola, fica muito bom. O final ilustra bem que atraso de vida representa o futebol na vida política desse país, unindo o drama do menino com a total imbecilização do povo em razão da participação do Brasil na Copa de 70. É um tipo de ironia com o qual estamos infelizmente acostumados, e que rendeu um filme muito bacana, bem acima da média do cinema nacional. A recepção apática do velho judeu Shlomo, que sabe tudo o que está acontecendo, diante da notícia da vitória do Brasil ("Que bom..."), e o entusiasmo apagado do menino que tanto esperava essa vitória, dizem tudo.

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[MOSTRA/SP] The Fountain

Então, é o seguinte: quem estiver com as expectativas lá em cima, talvez seja o momento de colocá-las láaaaa embaixo. Não achei "O PIOR FILME DO MUNDO!!!", como ouvi alguém dizendo na saída. Muito longe disso. Mas...

Bom trabalho do Hugh Jackman e da Rachel Weisz, MUITA pretensão do Aronofsky, algumas belíssimas imagens, e no final das contas, um filme...legal. Há um fiapo de história, que se repete em três planos temporais, muita choradeira, e uma tentativa não muito bem sucedida de virtuosismo narrativo e visual nos últimos 20 minutos (que mesmo assim é interessante).

Aronofsky precisa abaixar um pouco a bola, porque ele não é tão bom quanto acredita ser. Há que se admitir, todavia, que é admirável como o resultado até que mantém alguma dignidade, porque algumas das situações retratadas são ridículas em conceito. Dá para entender o motivo do Aronofsky ter demorado para conseguir fazer The Fountain, porque se eu tivesse lido esse filme no papel teria medo de investir nele (se bem que, ao que parece foi tudo culpa do Brad Pitt, a demora).

Sinto que eu precisaria ver de novo para avaliar com cuidado, mas o problema é que eu não estou com a menor vontade. Passa bem rápido, entretanto, e é um filme agradável.

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[MOSTRA/SP] Time

Depois do fraco O Arco, Ki-Duk Kim volta a todo vapor, com um dos melhores filmes de sua carreira. Li em alguns lugares que era um retorno ao Ki-Duk Kim mais cru do início de carreira, da época de A Ilha, Endereço Desconhecido e Bad Guy, mas nada a ver. Esse é mais um filme da safra Ki-Duk Light, apesar de ser, basicamente, sobre gente muito louca se automutilando por amor.

A história é a de uma mulher que, depois de dois anos de namoro, coloca na cabeça que o namorado vai largá-la assim que puder, porque cansou-se do rosto e do corpo dela. Note que o namorado é extremamente fiel e nunca a deixaria, mas ela está certa de que isso acontecerá. Qual é a coisa mais lógica a se fazer numa situação como essas, no universo Ki-Duk Kim? É lógico que é desaparecer da vida do sujeito, fazer uma cirurgia plástica, ficar irreconhecível, e depois voltar e esperar que ele se apaixone por ela...Não vou contar o resto do filme, porque é muito, muito legal. O trailer entrega coisa demais, e me arrependo de tê-lo visto antes. Mas nada que estrague 100 minutos da mais pura diversão. O filme está mais para a comédia do que para o drama, e na tradução para o português periga colocarem o título como sendo Minha Namorada Muito Louca.

Não sei se foi inspirado em um relacionamento amoroso do próprio Kim, mas o namorado da mulher aparece no filme como se estivesse trabalhando na edição de 3-Iron, e seu estúdio tem um cartaz de Wild Animals na parede.

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Pequena Miss Sunshine

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[MOSTRA/SP] Red Road

Filme escocês de suspense, que consegue ser ao mesmo tempo excelente e uma merda. Excelente porque é extremamente bem feito, e uma merda porque envolve o que é uma das estratégias de vingança mais estúpidas que eu já ouvi. Corta totalmente o impacto do filme, que por sinal decide abandonar o suspense nos últimos vinte minutos para fazer um drama "sério". Mas vale a pena, principalmente pelo talento envolvido. É o primeiro longa da diretora, que já ganhou um Oscar por um curta, e eu espero que ela decida fazer um filme de horror algum dia, porque ela é muito, muito boa. O filme inteiro se sustenta no clima, que é consideravelmente sinistro e tenebroso, e se aproveita bem do cotidiano e estilo de vida da Glasgow de colarinho azul.

Parece que Red Road é o primeiro filme de três com os mesmos personagens, todos a serem passados na Escócia, e parte de um manifesto à la Dogma, com regras diferentes, chamado Advance Party. Tem patrocínio e apoio moral do Lars von Trier.

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Horrores da Mostra

Os horrores da Mostra, é claro, são o público.

Pior cena de horror até agora por mim testemunhada: em Il Caimano, do Nanni Moretti, em certo momento começa a tocar a música The Blower's Daughter. Batidaça, é quase como colocar Imagine em um filme só que pior. Quando começa a tocar a música, uma mulher algumas poltronas ao lado (ou homem, nunca se sabe), começa a CANTAR JUNTO EM VOZ ALTA. Eu nem tive coragem de olhar para a pessoa ou pedir para parar, estava me sentindo constrangido demais para tomar qualquer ação.

Outra cena de horror. Acompanhe este diálogo ouvido antes de começar a sessão de Babel:

Homem: Ai, estou MORRENDO de vontade de ver esse filmeee, o trailer é MA-RA-VI-LHO-SO!

Mulher: Ué, mas como você viu o trailer?

Homem: Onde eu estava? Onde eu estava?

Mulher: Ah é, você estava nos EUA.

Homem: Isso, vi o trailer lá! 

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[MOSTRA/SP] A Promessa

Dane-se quem não gostou, filme de chinês voador com defeitos especiais é EXATAMENTE o que o público pedante da Mostra merece (chutando, uns 90% do pessoal). Ainda mais se for de um diretor previamente respeitado por "filmes de arte". Me diverti do começo ao fim, principalmente com os resmungos de algumas pessoas na audiência, e com certos comentários ao final. Pena que a cópia que a Mostra exibiu foi a mutilada pelos irmãos Weinstein, com quase meia hora a menos do que a chinesa. Pelo menos o DVDrip está na Internet para conferirmos o que foi cortado. Se bem que talvez seja uma versão melhor, a americana...

Comparado com Herói e Adagas, A Promessa sai ganhando e Chen Kaige dá uma puta surra em Zhang Yimou, como diretor consagrado de "filmes de arte" que resolve fazer um wuxia para deleite do povão. Visualmente é bem mais tosco, mas este não é um problema. É um tosco charmoso em sua extrema breguice...tem até uma cena em que uma mulher voa feito uma pipa, vestindo uma roupa de pássaro, puxada por um chinês que corre feito o Flash. Kaige perde de Yimou no visual, mas ganha em termos de urgência narrativa. Esse filme parece um trem decarrilante em direção a um choque contra uma parede. É mais afobado que um cachorro hiperativo depois de fumar crack. E tem de tudo, deusa flutuante, homem que corre mais rápido que touro, capa mágica da imortalidade, troca de identidades, vilão gay glamouroso, viagem no tempo, amor incondicional, cenas épicas de batalha, dentre outras coisas.

Resumindo: SENSACIONAL.

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[MOSTRA/SP] El Laberinto del Fauno

Segundo filme do que aparentemente será uma trilogia com 3993, em 2007, iniciada por El Espinazo del Diabo, esse filme é a indicação do México para o Oscar de filme estrangeiro. Acho que tem MUITAS chances de ganhar, e a Academia é capaz até de ignorar os componentes fortes de horror/fantasia, já que tem criancinha e tem guerra. Mas não da forma usual, melhor frisar logo de cara.

Quem viu Espinazo já sabe mais ou menos o que esperar. Fauno e Espinazo se complementam muito bem, em tom e conteúdo. Com a diferença de que Fauno é bem melhor (não que Espinazo seja ruim, é um filme que deveria ter ganhado mais reconhecimento). Também é mais violento, triste e cruel, de dar um certo nó na garganta no final.

Assim como Espinazo, é um filme que tem efeito cumulativo. Começa legal, mas vai ganhando força lentamente até o final extremamente bem orquestrado. Tiro certeiro de del Toro.

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[MOSTRA/SP] The Prestige

Eu apostei nesse filme como o melhor de 2006, e acho que não errei...muito. Não sei se é o melhor, mas é um dos melhores, sem dúvida. Engraçado como eles mudaram MUITA coisa do livro, e ao mesmo tempo mantiveram muita coisa também. Os irmãos Nolan alteraram radicalmente a estrutura, mudaram a moldura da trama, modificaram alguns eventos, algumas personagens...enfim, jogaram as coisas de pernas para o ar. Mas ficou excelente, e fiel no que importa.

A moldura do livro é a seguinte: há uma narração no presente, envolvendo os descendentes de Angier e Borden, conduzida pelo filho de um deles, que se encontra com a filha do outro. Nessa narrativa são encaixados dois diários. Primeiro o de Borden, depois o de Angier, em blocos completos. Depois há uma resolução no presente. O Priest escreve muito bem, e você tem um sentimento de cumplicidade muito grande primeiro com o Borden, depois com o Angier. Os dois se colocam como vítimas, e narram a história de forma pouco confiável, mas no final quem vence e surge como mais honesto é o Angier. No filme, os Nolan eliminaram essa moldura em favor de outra, mais complicada (e mais banal), envolvendo o julgamento do Borden pela morte do Angier. Na prisão, Borden tem acesso ao diário de Angier, e no diário de Angier, Angier por sua vez escreve tendo acesso ao diário de Borden. Há um diário dentro de um diário, flashbacks dentro de flashbacks, e comunicação direta entre ambos, por um artifício muito bem bolado que seria spoiler dizer. Desta maneira, os Nolan embaralham os dois blocos do livro e fazem um picadinho interessantíssimo. O truque das argolas, repetido algumas vezes no filme, representa bem a estrutura do roteiro. Que também replica a estrutura em três atos do número de mágica, narrada por Cutter no começo e no final do filme.

Eu sei que muita gente vai sair reclamando do filme por causa do final, mas no fundo The Prestige é ele mesmo um número de mágica cinematográfica, brilhantemente construído. Reclamar do final é cair no truque dos Nolan e confirmar a moral da história: segredos simples são difíceis de se acreditar, mas os complicados são difíceis de se aceitar. As pessoas acabam preferindo os simples, mesmo os intuindo, já que o que importa é acompanhar o número e se deixar deleitar por ele. Deleite por deleite, eu sinto dificuldades para acreditar que alguém não se sinta deleitado com este filme, pelo menos até o final. Prende tanto a atenção que você praticamente cai da poltrona, se aproximando inconscientemente da tela. E basicamente é essa a moral de The Prestige. É possível argumentar que seja um filme vazio, mas não é. The Prestige é um filme-tese quase irretocável, e a tese é interessante e não se aplica apenas a filmes ou números de mágica.

Em relação aos problemas...se os Nolan desconstruíram o livro de forma inteligente, a ordem do livro (e sua moldura) também tinham uma função importante, que acaba sendo perdida no filme. O prestige do número de Borden é simples, beirando ao ridículo, mas fácil de se aceitar. O prestige do número de Angier é mais complicado, requer uma dose extraordinária de suspensão de descrença, e é portanto mais difícil de se engolir. O livro lidava com isso muito bem. O prestige de Borden é revelado no final, depois de pouquíssimas pistas, e me pegou de surpresa. O prestige de Angier não tem muito mistério já a partir de mais ou menos a metade do diário de Angier, e vai sendo introduzido com cuidado, de modo que o leitor tem mais facilidade de aceitá-lo. E também consegue entender melhor o que se passava pela cabeça de Angier, que é um sujeito bem mais interessante e complexo no livro do que no filme.

No filme, os Nolan decidiram colocar uma pista sobre o prestige de Borden em praticamente TODAS as cenas em que ele aparece, e algumas em que ele não aparece. Are you watching closely?, a frase que é repetida várias vezes no filme, é dirigida à audiência. Eu vi o filme já sabendo o segredo de Borden, mas imagino que se não soubesse teria adivinhado facilmente, o que tira um pouco do impacto. Tudo bem que os Nolan querem provar algo com isso, mas dava para cortar metade das trocentas pistas. Se você estiver "watching closely", vai adivinhar com certeza. Já o prestige do truque de Angier é introduzido subitamente demais. Cai do céu, quase que literalmente, e por ser tão radical, fica um pouco chocante demais.

De qualquer maneira, verei de novo pelo menos mais uma vez no cinema, e comprarei o DVD. Se não é o melhor filme do ano, vai ser difícil encontrar um mais inteligente.

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[MOSTRA/SP] Babel

Previsivelmente, Iñarritu não desapontou. Acho que ele vai precisar fazer um filme bem diferente da próxima vez, porque este é muito semelhante aos outros dois em termos de estrutura. Não sei se ele consegue fazer mais um filme nesse esquema e não esgotar a fórmula. Mas como Iñarritu já disse que seus longas compõem uma trilogia, fico mais tranqüilo e espero que o futuro guarde filmes mais diferentes. Isto é, se Iñarritu e o roteirista Guillermo Arriaga não se matarem primeiro. Comparado aos outros dois, achei Babel pior do que 21 Gramas, mas melhor do que Amores Perros. Ou seja, um filme muito, muito bom.

Desta vez os núcleos de personagens são espalhados por lugares diferentes do globo: uma família de camponeses e um casal de americanos no Marrocos, os filhos pequenos do casal americano e sua babá entre os EUA e o México, e um caçador japonês e sua filha surdo-muda no Japão. São várias as línguas faladas, e uma não-falada (sinais), o que justifica o título Babel. Fora isso, também se encaixam no título a incapacidade de comunicação entre as personagens, em relações interpessoais e até globais, e seu oposto, a capacidade de comunicação além da barreira da língua e costumes. É um filme otimista, diga-se de passagem. Ninguém vai sair deprimido do cinema, apesar da série de desgraças que se acumulam ao decorrer da narrativa.

O incidente que dispara as histórias desta vez não é um acidente de carro, mas um tiro de rifle que acaba ferindo gravemente a mulher americana, disparado por um dos filhos da família de camponeses quando testavam a arma. A narrativa é não-linear, não tão perfeitamente particionada quanto a de Amores Perros, mas não tão radical quanto a de 21 Gramas. Fica algo entre os dois extremos, mas é tão bem construída e flui tão solta que você nem percebe as diferenças de tempo entre algumas seqüências, apesar de perceber no final que estava totalmente perdido em relação à distância temporal que separava algumas cenas.

Eu li alguns comentários dizendo que o núcleo do Japão não se encaixa bem na história, e que é a parte mais fraca de Babel, mas eu discordo violentamente. Achei os segmentos japoneses de longe os melhores do filme, com Inãrritu, o diretor de fotografia e o editor soltando a franga em Tóquio, retratando a cidade de forma tão bonita que dá gosto de ver. Não é nem a Tóquio-pesadelo urbano dos filmes japoneses e americanos usuais, nem a Tóquio de vitrine à la Sophia Coppola. A cidade fica vibrante, intensa, e dá um contraste interessante à aridez e ao calor do Marrocos e da fronteira EUA-México. É uma coisa molhada, de cores frias porém fortes, que dá um contraponto gritante aos outros núcleos do filme e até mesmo ao drama interno da protagonista japonesa, sozinha e cheia de mágoas. Funciona, em outras palavras, que é uma beleza, e a narrativa parece desconexa das demais apenas à primeira vista.

Não vou contar mais para não estragar a experiência, é um dos melhores filmes de 2006, que merece ser visto o tão breve possível. Entra em cartaz dia 19 de janeiro.

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[MOSTRA/SP] Um Longo Caminho

Depois de dois filmes de pancadaria, um retorno de Zhang Yimou ao seu eu cinematográfico habitual. Ênfase no habitual. Todos os traços característicos de Yimou estão aqui, com personagem principal obstinado enfrentando uma sucessão de barreiras para atingir um objetivo que representa uma conquista que representa uma vitória e desenlace a um drama interno. Yimou no piloto automático, eu diria, mas é um filme bem bacaninha, que arrancou várias lágrimas da audiência. O principal defeito é um voice over totalmente inútil do personagem principal, que surge várias vezes ao decorrer do filme, e poderia ser perfeitamente suprimido. O DVD chinês já está disponível, para quem quiser assistir.

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[MOSTRA/SP] Azuloscurocasinegro

Encaixei esse filme no meio dos outros do dia de hoje, porque eu tinha um buraco para preencher. Surpresa, foi o melhor do dia. Filme de estréia do diretor, um espanhol, é a história de dois irmãos, um lixeiro e um presidiário, que se apaixonam pela mesma mulher, uma outra presidiária, e ao mesmo tempo se vêem às voltas com o pai inválido, depois de um derrame sofrido há 7 anos. Não vou contar todos os detalhes da história, que não tem reviravolta nem é metida a espertalhona, é um drama simples (que em alguns momentos fica meloso demais, mas desculpável), que flui extremamente bem. Um filme pouco conhecido, pelo que eu percebi no IMDB, mas deve começar a receber algum reconhecimento de crítica com o passar dos meses, conforme for sendo exibido mais vezes ao redor do mundo.

Não me perguntem o que o título significa, eu não entendi.

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[MOSTRA/SP] Clerks 2

A impressão que eu tenho é a de que o Kevin Smith tem ficado cada vez mais infantil e retardado com o passar dos anos, de modo que o primeiro Clerks parece um filme bem maduro em comparação ao segundo. Mas tudo bem, é divertidinho. Tenta ser inteligente em alguns momentos, mas essa não é a praia do Smith.

Pensando bem, Smith não deve ter mudado nada. Talvez eu achasse o primeiro Clerks tão idiota quanto o segundo se o visse hoje. A teoria de Clerks 2 é que tudo sempre continua na mesma e as pessoas não mudam nunca, e provavelmente é isso mesmo, em relação ao Kevin Smith. A minha perspectiva é que mudou. Acho que na época pré-Internet um cara como o Smith fazia sentido, já que ele falava a linguagem da comunidade nerd, e dava voz a essa comunidade no cinema. Todas essas referências de cultura pop eram bacanas naquela época, porque não havia fóruns como o Joio, por exemplo, e quem freqüentava a Usenet e BBSs era REALMENTE nerd, além de qualquer salvação. Eis que surge um filme com uma discussão sobre os trabalhadores mortos na construção da Estrela da Morte, e a gente fica entusiasmado de encontrar alguém com o mesmo repertório inútil, fazendo o mesmo tipo de conjectura imbecil. Mas nos dias de hoje, como a Internet produz tanta redundância, tanto humor juvenil, tanto ruído pop, algo como Clerks 2 parece estúpido e sem sentido, e seu diretor o supra-sumo da vacuidade.

Mas enfim, é um filme indolor, que passa bem rápido e tem alguns momentos de graça. O equivalente cinematográfico do talkback do AICN.

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[MOSTRA/SP] A Scanner Darkly

Eu chutei que essa ia ser a primeira adaptação realmente fiel de uma obra do Dick para o cinema e acertei...quer dizer, acho. Pena que Scanner não é, na minha opinião, um dos melhores livros do Dick (Three Stigmata of Palmer Eldritch, Ubik, VALIS, A Maze of Death, Doctor Bloodmoney...há vários outros livros melhores). Mas algumas coisas não ficaram muito boas. Já faz um bom tempo que eu li o livro, mas pelo que eu me lembro...

Spoiler: Highlight to view
Fred não sabia que Bob Arctor e ele eram a mesma pessoa na maior parte do livro, e isso afetava bastante a mecânica da história. A questão da Donna ser a chefe do Arctor, se eu me lembro bem, não acontecia (achei isso um truque meio barato), e o final era bem mais deprê, com Arctor preso na New Path, que não estava na mira de qualquer investigação policial, sem perspectiva de sair lá um dia. Não tinha essa luz no fim do túnel de guardar florzinha para os colegas, eventualmente entregando uma pista de que havia uma conexão entre a New Path e a Substance D. A New Path termina o livro em pleno domínio da situação, sem que Arctor possa fazer nada a respeito.

Fora isso, a adaptação me pareceu bem fiel. O filme não consegue abordar tão bem quanto o livro a relação Fred/Bob Arctor, pelo motivo que eu coloquei na caixa de spoiler, mas não deixa de ser bacana. Se for para dar uma nota, 7 em 10.

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